terça-feira, 2 de julho de 2013

Querido Bobby,


Faz quanto tempo? Onze, doze anos? Nossos valores naquela época eram tão diferentes. Para mim, as duas coisas mais importantes eram menstruar para virar mocinha e beijar para deixar de ser criança. Nunca teria dado entre nós dois, Bobby, não me leve a mal, sei que temos interesses em comum e somos grandes amigos agora. Entretanto, eu não faço seu gênero e nem você é meu tipo. Apenas a louca da nossa amiga em comum que achou que algo além da amizade que poderia surgir de nós dois, mas sejamos sinceros, não estávamos tão desesperados assim.
No outro campo eu fui bem sucedida, fui a primeira da minha turma a virar mocinha e o mais importante, a primeira admitir. Lembro que todas falavam “eu não, ainda não” e eu um dia parei e disse “já, e há muito tempo”. De repente, outras começaram a assumir e a falar e de repente eu virei uma espécie de guru menstrual. As meninas viam me perguntar como era, como saberiam quando acontecesse com elas, se eu tinha cólicas. Ah, as cólicas, era tão chique tê-las. “Hoje eu estou com cólica”, era a prova definitiva que você tinha dado um passo adiante. Pedir absorvente emprestado era forma de se colocar como igual, ter absorvente para emprestar era igual a ter carro importado hoje em dia. Teve uma menina que vibrou e contou para todo mundo que encontrara sangue em sua calcinha e que era uma mocinha, no dia seguinte ela apareceu toda triste, no fim era uma espinha. Bobby, eu nunca engoli essa historia, quem tem espinha lá?
Bobby, eu não sei como eu não fui a garota mais popular do colégio, não sei como esta oportunidade me escapou e eu me tornei uma nerd. Acho que eu não vi o próximo step, não agarrei a próxima oportunidade. Não sei se foram meus óculos, minhas notas altas, ou meu cabelo despenteado, mas algo me fez perder esse status de guru. Particularmente eu acredito que foram as escolhas pelas minhas amizades. Nunca gostei de ver alguém no canto sem falar com ninguém, nunca gostei de ver alguém sendo zuado pelos outros. Toda vez que aparecia um quietinho na minha sala eu era a primeira a falar com ela. Se ela tivesse problema para se soltar, eu insistia até nos tornamos amigas. No meio desse processo, acho que perdi as outras amizades, as amizades por status. Não me arrependo, acho que sou uma pessoa melhor por isso. Aos poucos, me tornei a nerd com óculos fundo de garrafa que sempre falou merda.
Mudei de colégio, Bobby, continuei sendo nerd, continuei usando óculos, continuei não penteando o cabelo, continuei não sendo a garota mais popular do colégio e ainda pus aparelho. Olhando por este lado, é uma dádiva eu ter acabado o colégio com amigos. E que bons amigos, amigos para a vida, eles trouxeram você de novo para minha vida, desta vez sem apelidos, com nome mesmo. Tenho fé nos nossos hobbies, Bobby, acredito que temos boas ideias, mas precisamos refinar a forma. Preciso me dedicar mais, preciso rever minhas prioridades, Bobby, tem coisas que importam mais do que status, dinheiro ou absorvente. Eu sabia disso Bobby, mas em algum momento eu deixei me perder. 

Um comentário:

  1. Hahahaha...o texto eh otimo! Como sempre! Eu tbm tive meu momento "Guru Menstrual", mas sempre fui uma nerd! Parabens, nunca deixe de escrever, eh um dom natural que vc tem, com a sua mente rapida, satirica e ao mesmo tempo super sensivel!

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